sexta-feira, 29 de maio de 2015

ATENÇÃO ALÉRGICOS: OMISSÃO MATA!



No Brasil, UMA EM CADA TRÊS reações de alergia alimentar acontece por erro na leitura de rótulos. As reações podem ser GRAVES, com risco de MORTE em alguns casos.

Esta situação poderia ser evitada com o destaque da presença de alérgenos nos rótulos, inclusive no caso de risco de traços (produto que passou por uma máquina onde foram fabricados outros produtos comalérgenos).

A mudança da rotulagem está em discussão na Anvisa desde o ano passado, mas a norma ainda não foi aprovada.

Enquanto isso, a indústria continua deixando para o consumidor e o profissional de saúde - que não participam da fabricação do produto - a tarefa de avaliar se é uma opção segura.

ATÉ QUANDO?


FONTE: PÕE NO RÓTULO

quarta-feira, 27 de maio de 2015

EU POSSO ISSO: CONTEÚDO DIGITAL DE NUTRIÇÃO

EU POSSO ISSO é uma equipe de pessoas apaixonadas pelo tema da nutrição e alimentação saudável de origem em um núcleo familiar, que aprendeu durante anos com um filho com diversas alergias alimentares graves. A partir dessa longa experiência com restrições alimentares e alergias, decidiram então criar uma iniciativa para divulgar parte de nossa experiência, alem de promover a disseminação de informações que ajudem e auxiliem aqueles que passam por essas restrições alimentares (seja por motivos de saúde – intolerâncias e alergias ou por opções de dietas).


domingo, 24 de maio de 2015

GLOBO REPÓRTER INVESTIGA DOENÇA QUE ATINGE MILHÕES DE BRASILEIROS: A ALERGIA

Destacamos algumas perguntas e respostas relacionadas a Alergia a Proteína do Leite de Vaca!!

Dra. Fátima Emerson é coordenadora da Comissão de Assuntos comunitários da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e imunologia) e do Dr. José Luiz de Magalhães Rios é coordenador da Clínica de Alergia – Policlínica Geral do Rio de Janeiro.

Gostaria de saber a diferença entre alergia e intolerância. É a mesma coisa?

Não, Cristina. Alergia e intolerância não são a mesma coisa.

Alergia é uma reação imunológica contra uma substância à qual o indivíduo é sensível e pode causar reações variadas e graves. Já a intolerância é decorrente de uma dificuldade do organismo de assimilar determinado alimento ou medicamento, acarretando reações. Por exemplo, nos casos de intolerância ao leite, o organismo tem uma incapacidade de digerir a lactose, que é o açúcar do leite. Já na alergia ao leite, há um processo imunológico contra as proteínas do leite.

Os sintomas da intolerância são restritos ao trato digestivo (diarreia, prisão de ventre, dor, etc.), enquanto na alergia os sintomas podem acometer diversos órgãos e sistemas, como: pele, trato digestivo, respiratório, etc. É importante ter a certeza do diagnóstico para poder orientar o tratamento que é bastante diferente em cada caso

Minha filha tem alergia à proteína do leite. Isso passa?

Rosilene, a alergia à proteína do leite de vaca pode diminuir e até desaparecer com a idade. Mas, uma pequena parcela de pacientes permanece com sintomas até a idade adulta. Por isso, é importante que o tratamento seja orientado pelo médico especialista em alergia

Tenho uma bebê de cinco meses e os médicos suspeitam que ela é APLV. No entanto, esse diagnóstico se baseia em observação. Existe algum exame que seja seguro e possa ser feito em bebês? APLV tem cura? Que tipo de tratamento pode ser feito?

Sandra, o diagnóstico da alergia a proteína do leite de vaca é clínico, podendo ser confirmado através de testes cutâneos ou no sangue, através da dosagem da IgE específica para o leite de vaca e para as proteínas.

Existem duas formas principais de APLV. A mais grave, e mais rara, é aquela em que a criança ao ingerir leite ou derivados apresenta crise de urticária (manchas na pele), edema (inchação) e sintomas respiratórios (falta de ar, coriza, etc.). Nessa forma, as reações imunológicas são mediadas pela IgE, que é uma classe de anticorpos típica das reações alérgicas e, por isso, essa reação é chamada IgE- mediada. Essa forma de APLV apresenta testes positivos para o leite e exame de sangue positivo para as proteínas do leite (dosagem da IgE específica para as proteínas do leite).

A outra forma de APLV é a mais comum e se manifesta apenas por problemas digestivos, como cólicas, vômitos e diarréia, às vezes até com sangue nas fezes. Essa forma de reação não é mediada por IgE e por isso nem os testes alérgicos e nem os exames de sangue são positivos. Por isso o diagnóstico de APLV é clínico.

A maior parte das crianças com APLV evolui espontaneamente para a cura entre os 3 e os 5 anos de idade. O tratamento, portanto, é fazer dieta de leite e derivados, para evitar as reações e permitir que o organismo vá desenvolvendo tolerância. Em crianças pequenas, o leite precisa ser substituído por outro, para manter a alimentação do bebê. É um trabalho complexo que deve ser feito pelo médico especialista, com apoio de nutricionista.

Tenho um filho de 4 anos diagnosticado com alergia alimentar a leite e soja. Já fizemos inúmeros exames e testes alérgicos e em nenhum deles deu positivo. Por que isso acontece?

Roberta, existem duas formas principais de alergia alimentar. A mais grave, e mais rara, é aquela em que a criança ao ingerir o alimento ou seus derivados apresenta cirse de urticária (manchas na pele), edema (inchação) e sintomas respiratórios (falta de ar, coriza, etc.). Nessa forma, as reações imunológicas são mediadas pela IgE, que é uma classe de anticorpos típica das reações alérgicas e, por isso, essa reação é chamada IgE- mediada. Essa forma de alergia alimentar apresenta testes positivos para o alimento (no caso, leite ou soja) e exame de sangue também positivo (dosagem da IgE específica para o alimento suspeito).

A outra forma de alergia alimentar é a mais comum e se manifesta apenas por problemas digestivos, como cólicas, vômitos e diarréia, às vezes até com sangue nas fezes. Essa forma de reação não é mediada por IgE e por isso nem os testes alérgicos e nem os exames de sangue são positivos. Essa forma de alergia deve ser a do seu filho. É menos grave e tem mais chance de desaparecer com a idade. A forma de comprovar é por dieta de exclusão do alimento, para ver se melhora dos sintomas, e depois de algumas semanas, a re-exposição ao alimento, para ver se os sintomas voltam. Este procedimento é importante para confirmação, mas só deve ser feito com acompanhamento médico.

FONTE: Globo Repórter - 22/05/2015

quarta-feira, 20 de maio de 2015

V FÓRUM DE ALERGIA ALIMENTAR


OBJETIVO: CONHECER E ATUALIZAR CONCEITOS SOBRE O SISTEMA DIGESTÓRIO EM SEUS ASPECTOS IMUNOLÓGICOS, CLÍNICOS, DIAGNÓSTICOS, NUTRICIONAIS E TERAPÊUTICOS COM ÊNFASE NA DISCUSSÃO DE CASOS CLÍNICOS DE ALERGIA ALIMENTAR IGE E NÃO-IGE MEDIADAS

Inicio: 22/05/2015
Termino: 23/05/2015
Duração: 10h

Coordenação: Dra. Ana Paula Castro / Dra. Yu Kar Ling Koda / Dr. Antonio Carlos Pastorino e Dr. Ricardo Toma

Local: Anfiteatro do Instituto da Criança - Av. Dr Eneas de Carvalho Aguiar, 647 - Portaria 2.

FONTE: CENTRO DE APOIO AO ENSINO E A PESQUISA EM PEDIATRIA (CAEPP)
MAIORES INFORMAÇÕES EM: http://www.caepp.com.br/Caepp_Item_Curso.aspx?idcurso=31

segunda-feira, 18 de maio de 2015

COMO SERÁ A VIDA DE UMA ADOLESCENTE COM APLV?

Muitos nem imaginam, mas é possível VIVER SEM LEITE (DE VACA)!!


Não me lembro de ser de outra maneira. A minha primeira recordação desta “diferença” foi no infantário, devia ter 4 anos (sim, só entrei aos 4 anos porque era demasiado arriscado eu comer numa cantina, ou ter outras pessoas a alimentar-me para além dos meus pais ou avós), descia as escadas, pequenina, e ia à cozinheira pedir o meu pãozinho do lanche, diferente dos outros, com doce de morango. Era nessas alturas que percebia que havia algo diferente comigo, mas não tinha noção dos problemas que este problema poderia causar-me. Sabia que não podia beber leite, sabia que não comia o pão com queijo ou manteiga, e sabia que não podia mexer o iogurte como os meus colegas faziam para ele ficar mais líquido. Tirando isso, era uma criança feliz, e não sofria minimamente com isso.

À medida que cresci comecei a fazer mais amigos, a mudar de escola, a ir a festas de anos e visitas de estudo. A minha mãe ia à escola e falava com toda a gente, cozinheiras, funcionárias, professoras, monitoras. Lembro-me de quando a minha comida do almoço era diferente dos outros, e por vezes mais saborosa, e os outros meninos tinham inveja de mim e eu sentia-me mal. Mas eu não tinha culpa de não poder comer aquele puré horrível, certo?

Quando comecei a ir a festas de anos a minha mãe tinha sempre de ir falar com os pais do aniversariante e os meus amigos também não percebiam porquê. Habituei-me desde sempre a não comer nada da mesa da comida, muito menos o bolo, ou até as batatas fritas ou a gelatina. Coisas que ninguém pensa que podem ter leite… mas têm. O que é que eu fazia aos saquinhos de doces que davam no fim? Agradecia e trazia para os meus irmãos (que ficavam super contentes quando eu vinha de festas).

Quando aprendi a ler, e cresci mais um bocadinho, comecei a ficar mais independente. Aprendi com a minha mãe que tinha de ler sempre os rótulos de tudo o que comia, mesmo que já o tivesse comido. NUNCA experimentava coisas novas, mesmo que não tivessem escrito “leite” ou “soro de leite em pó” ou “proteínas lácteas” no rótulo, sem a presença da minha mãe. Não arriscava nunca, tinha sido ensinada assim. Por exemplo, eu tenho 17 anos e comi gomas pela primeira vez o ano passado. Estranho porque gomas não têm leite? Pois… algumas têm.

A epipen (injeção de adrenalina) andava e anda sempre comigo. Comecei a ensinar aos meus amigos como é que se faz, caso me aconteça alguma coisa. Deixei de comer na escola, porque as empresas de cantinas escolares não se responsabilizam minimamente por estes problemas. No bar da minha escola não há absolutamente nada que eu possa comer, a não ser maçãs… No Macdonalds, a única coisa que eu posso comer são as batatas e douradinhos (e houve uma altura em que estes deixaram de estar nos menus). Num centro comercial normal, com cerca de 20 restaurantes, devo poder comer uma refeição em dois ou três. Nunca comi comida chinesa, japonesa, paquistanesa, indiana (…) esses restaurantes não são para mim. Sempre que vou jantar fora com a minha família é necessário perguntar se o bife que eu escolhi comer é frito em manteiga ou se o arroz tem manteiga… e a questão é que não basta perguntar! É preciso explicar aos cozinheiros que é uma questão de vida ou de morte. Uma questão muito grave, pois muitos confundem a minha alergia com uma simples intolerância à lactose. Para esses, não, não é a mesma coisa.

Agora, na minha vida adolescente, os problemas continuam a existir. Com a idade veio a responsabilidade e alguma independência mas também vêm perigos. Perigos que pessoas que não conhecem esta realidade nem sequer imaginam. Comecei a sair à noite, a jantar fora com os meus amigos, a ter namorados (“isso não tem nada a ver…” pensam vocês). De facto, sempre que é marcado um jantar de aniversário eu tenho sempre de perguntar ao aniversariante que comida vamos comer, falar com o cozinheiro, certificar-me de tudo. E sim, já aconteceu dizerem-me “se calhar é melhor não comeres” e também, mas quantas vezes, são marcados jantares em pizarias onde eu fico a olhar enquanto todos os meus amigos se deliciam. Doloroso? Já foi mais. Agora já estou habituada, e não me faz diferença. E bebidas alcoólicas? Quantos cocktails ou shots têm leite? Existem mais do que imaginam. Sabiam que se eu tivesse namorado, e ele estivesse a comer um gelado, não me podia dar um beijinho a seguir? Pois é namorados/as de pessoas alérgicas, cuidado! Não me parece que queiram assassinar a vossa cara-metade…

Por fim acho que vou falar de uma das coisas que me custa mais e que vai afetar mais a minha vida nos próximos tempos: as viagens. Há cerca de 3 anos eu tinha uma visita de estudo dos meus sonhos, a Paris, com os meus amigos, os meus amigos de infância, os meus melhores amigos, a minha turma. Eu sonhava em ir, queria ir mais do que tudo. A minha mãe também queria que eu fosse, os meus amigos também, a minha professora também… Mas foi possível eu ir? Não. Não se responsabilizavam pela minha comida. 9 dias no estrangeiro, França ainda por cima, um país onde a maioria da comida e feita com queijos, leites, natas. A organização da viagem não se quis responsabilizar. E eu fiquei cá. Fiquei a ver os meus amigos todos fazerem a coisa que eu mais queria fazer no mundo e não o pude fazer simplesmente pelo facto de ter uma grave alergia alimentar. Ninguém sabe o quanto me custou, principalmente porque não podia culpar ninguém. Só esta maldita alergia. Desejei tantas vezes ser outra pessoa. Lembro-me da minha mãe me dizer “minha querida, se pudesse trocava contigo” mas não podia trocar. Ninguém podia.

Agora, no 12º ano, uma viagem a Londres já é algo mais possível, por serem menos dias, mas mesmo assim, vai ser difícil a minha alimentação lá, e vai ser diferente da dos meus colegas. Ir viajar só com amigos já tem vindo a acontecer. E felizmente todos os meus amigos têm noção da gravidade da alergia e temos todos muito cuidado quando cozinhamos. Aos que conheço há pouco tempo, costumo fazer um pequeno “discurso” antes de começarmos a fazer o jantar, tanto que uns já o sabem de cor.

Tenho tido algumas amigas minhas que têm feito comigo receitas sem leite especiais para mim, para eu me sentir melhor. Algumas mães fazem bolos sem leite para mim nas festas. O apoio dos amigos e a compreensão é das coisas mais importantes neste processo. Ultimamente até temos algumas “piadas privadas” sobre a minha alergia, uma espécie de humor negro, todos nos rimos, eu não levo a mal, rir é o melhor remédio.

Para o ano que vem vou para a universidade, mais uma nova experiência, não sei como vai ser. As praxes, as comidas nas cantinas, os jantares de curso, as festas, as saídas, o erasmus… um mundo novo.

Mas existe uma esperança para a redução deste meu problema: a dessensibilização. Já comecei a fazer no hospital e ando a ingerir leite todos os dias! Um pouco estranho para mim e é uma quantidade minúscula, mas tem vindo a aumentar… O objetivo não é eu poder começar a comer pizas (infelizmente) mas sim a minha reação não ser tão grave, e não correr risco de vida. Vale a pena não vale?

É importante dizer que ter alergias alimentares não é o fim do mundo, aliás, a minha alimentação é bastante saudável e a minha vida consegue ser absolutamente normal! É só preciso ter cuidado, e não sou só eu, mas sim todas as pessoas que me rodeiam.

Este problema tem tido ultimamente muita divulgação e não sabem o quão feliz isso me faz. Sinto-me representada e compreendida a todos os níveis, e por isso agradeço imenso à Alimenta, por me fazer ver que existem muitas pessoas como eu. E lembrem-se, não é o fim do mundo!

FONTE: ALIMENTA (Associação Portuguesa de Alergias e Intolerâncias Alimentares)

sexta-feira, 15 de maio de 2015

ESTUDOS APONTAM QUE ALERGIA À PROTEÍNA AO LEITE DE VACA É A PRINCIPAL CAUSA EM LACTENTES... VEJAM!!!

Alergia à Proteína do Leite de Vaca
Allergy to cow´s milk protein

FONTE: GRUPO EDITORIAL MOREIRA JR.
LINK: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=5465

Mauro Batista de Morais. Professor associado livre-docente da Disciplina de Gastroenterologia e chefe do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo.

Patrícia da Graça Leite Speridião. Professora adjunta doutora do Curso de Nutrição da Universidade Federal de São Paulo.

Marcela Duarte de Sillos. Médica do Pronto-Socorro de Pediatria do Hospital São Paulo e mestranda do Programa de Pós-graduação em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria da Universidade Federal de São Paulo.

E-mail Contato: mbmorais@osite.com.br
Pediatria Moderna Ago 13 v 49 N 8 págs.: 301-308

Unitermos: alergia, proteína, leite de vaca, lactente.Unterms: allergy, protein, cow's milk, newborn.

Resumo

Os autores abordam aspectos atuais da Alergia à Proteína do Leite de Vaca, destacando sua importância e frequência na clínica pediátrica. Procedem a uma revisão dos aspectos clínicos da patologia, em particular a cólica do lactente, refluxo gastroesofágico, proctocolite, constipação crônica, enteropatia e esofagite eosinofílica. Descrevem a rotina diagnóstica e apresentam paradigma para avaliação do paciente com alergia digestiva ao leite de vaca e frisam a importância de uma dieta de exclusão adequada para controle satisfatório do problema.

Introdução
As proteínas do leite de vaca são a principal causa de alergia alimentar no lactente(1-3). Na Tabela 1 são apresentadas as estimativas de alergia a diferentes tipos de alimentos, de acordo com avaliações realizadas nos Estados Unidos da América do Norte(3). No Brasil praticamente não existem informações precisas sobre a prevalência populacional de Alergia à Proteína do Leite de Vaca. Estudo epidemiológico(4) realizado em consultórios de Gastroenterologia Pediátrica de várias regiões do Brasil revelou que das 9.478 consultas, 7,3% tiveram como motivo suspeita de alergia alimentar, sendo os seguintes os alimentos suspeitos: 77% leite de vaca, 8,7% soja, 2,7% ovo e 11,6% outros alimentos. A análise de casos novos e em acompanhamento permitiu que se estimasse a incidência em 2,2% e a prevalência de 5,4% de pacientes com diagnóstico confirmado ou suspeita de Alergia à Proteína do Leite de Vaca(4).

A maior parte dos casos de Alergia à Proteína do Leite de Vaca ocorre na faixa etária de lactente. Este fato ilustra a elevada relevância da doença, por ocorrer em uma fase da vida em que se observa rápida velocidade de crescimento e desenvolvimento. Assim a própria doença, como também uma dieta substitutiva inapropriada(5) podem comprometer o pleno potencial de crescimento e desenvolvimento do lactente com Alergia à Proteína do Leite de Vaca.

No que se refere à fisiopatologia do processo se considera que indivíduos com predisposição genética podem não desenvolver tolerância às proteínas da dieta, o que propicia o desenvolvimento de uma reação imunológica, responsável pelas manifestações clínicas da doença(6-8). Tradicionalmente estas reações adversas aos alimentos são distribuídas em duas categorias, mediadas por células e pela IgE. As reações mediadas pela IgE ocasionam reações imediatas (minutos ou no máximo horas) após a ingestão do alimento que contenha a proteína alergênica. Por sua vez, as reações mediadas por células demandam um período maior para se estabelecer. São as reações mediadas por células as predominantes nos lactentes. Vale destacar que a maioria dos lactentes com Alergia à Proteína do Leite de Vaca mediada por células em geral desenvolvem tolerância oral espontânea ao completar um ou dois anos de idade(6-8). Assim, não cabem propostas para estes casos de métodos que visem acelerar o desenvolvimento da tolerância oral, ao contrário das medidas quesão tentadas em pacientes com maior idade, com reações alérgicas graves, do tipo anafilaxia (mediadas pela IgE)(9). Para estes casos existem, em poucos núcleos de pesquisa do mundo, projetos preliminares que visam induzir tolerância para proteger estes pacientes de reações graves, inclusive em eventos com exposição involuntária ao alérgeno.
Segundo Dupont (2011). 

Apresentação clínica 
As principais manifestações clínicas digestivas da Alergia à Proteína do Leite de Vaca são regurgitação e vômitos, cólica, diarreia com ou sem sangue, presença de sangue em fezes não diarreicas e constipação intestinal(1,2,4,6-8,10). A doença é mais comum nos primeiros meses de vida; no entanto, pode aparecer mais tardiamente. Estes grupos de manifestações compõem um conjunto de síndromes clínicas que podem ser decorrentes de Alergia à Proteína do Leite de Vaca ou, também, de outras doenças próprias de cada faixa de idade. Na Tabela 2 são apresentadas as principais manifestações clínicas, de acordo com a faixa etária(10). 


A cólica do lactente pode ser definida pela ocorrência de crises de irritabilidade, choro e agitação, sem explicação plausível, por mais de três horas diárias, em mais de três dias da semana por mais de três semanas. Existe possibilidade de a cólica do lactente ser secundária à APLV, mesmo em lactentes em aleitamento natural exclusivo(7). Considera-se que esta manifestação é não IgE mediada e ainda não se sabe a prevalência de Alergia à Proteína do Leite de Vaca entre os pacientes com cólica do lactente. Nos casos de lactentes que recebem aleitamento natural exclusivo, a proteína do leite de vaca deve ser suspensa da dieta da mãe por duas semanas(8,11,12). Se houver melhora é interessante realizar teste de desencadeamento, oferecendo leite de vaca e/ou derivados à mãe e avaliar a recorrência das cólicas no lactente(8). 

A associação entre cólica do lactente e Alergia à Proteína do Leite de Vaca foi identificada em ensaios clínicos nos quais se observou melhora da cólica com o emprego de fórmulas com proteínas extensivamente hidrolisadas ou de aminoácidos(7,11,12). O mesmo não foi observado quando se utilizou fórmula sem lactose ou de soja(7,11,12). Deve ser ressaltado que a cólica do lactente desaparece por volta dos 3 a 4 meses. Assim, é imprescindível a realização de teste de desencadeamento para confirmar ou descartar o diagnóstico de cólica secundária à Alergia à Proteína do Leite de Vaca e evitar a utilização de dieta de exclusão desnecessária, por tempo prolongado(12). Vale destacar que em consultórios brasileiros de Gastroenterologia Pediátrica a cólica foi uma manifestação que esteve presente em 34% dos lactentes com suspeita de Alergia à Proteína do Leite de Vaca(4). 

Regurgitações e vômitos podem ser ocasionados por doença do refluxo gastroesofágico secundária à Alergia à Proteína do Leite de Vaca. Na última diretriz conjunta das Sociedades Europeia e Norte-americana de Gastroenterologia Pediátrica a possibilidade da Alergia à Proteína do Leite de Vaca ser causa da doença de refluxo gastroesofágico recebeu grande destaque(13). Recomenda-se que entre os procedimentos necessários para o diagnóstico diferencial de lactentes com regurgitações e vômitos associados ou não com déficit de ganho de peso e irritabilidade deve ser tentada dieta de exclusão do leite de vaca e derivados. Nos lactentes que não recebem aleitamento natural, a fórmula dever ser substituída por fórmula com proteínas extensamente hidrolisadas ou de aminoácidos(13). Considerando que este problema em geral ocorre no primeiro semestre de vida, não deve ser recomendada fórmula de soja. Não existe informação precisa sobre a prevalência de Alergia à Proteína do Leite de Vaca entre os lactentes com quadro compatível com doença do refluxo gastroesofágico(13). Por outro lado, 53% dos lactentes atendidos por suspeita de Alergia à Proteína do Leite de Vaca por gastroenterologistas pediátricos no Brasil apresentam regurgitações e vômitos(4). 

A proctocolite ou colite eosinofílica ou alérgica tem como manifestação clínica fundamental a presença de sangue em fezes normais ou diarreicas. De acordo com revisão da literatura, Lozinski e Morais(14) identificaram a publicação de 245 casos desde 1966. Observou-se que 61,5% eram do sexo masculino e o aparecimento de sangue nas fezes ocorreu, em geral, no primeiro semestre de vida. Com relação às fezes, em 73,5% não eram diarreicas. No hemograma se constatou eosinofilia em 48,0% dos casos. Teste de desencadeamento com proteínas do leite de vaca, com a finalidade de confirmação diagnóstica (nos primeiros meses após a recuperação clínica obtida pela interrupção do leite de vaca), foi positivo em 92,0% dos 25 casos nos quais foi realizado(14). Assim, ao contrário do observado com a cólica do lactente e o refluxo gastroesofágico, em geral os lactentes com proctocolite e colite eosinofílica apresentam Alergia à Proteína do Leite de Vaca. Entretanto, deve-se ter em mente outros diagnósticos diferenciais quando se observam manifestações atípicas (por exemplo, febre, vômitos e diarreia com início abrupto, compatíveis com diarreia aguda por Shigella, fissura anal e outras condições clínicas). Outro ponto importante, identificado na mencionada revisão da literatura, é o fato de que 43,3% dos 245 casos publicados se encontravam em aleitamento natural exclusivo(14). Nesta situação é necessário excluir as proteínas do leite de vaca e derivados da dieta da mãe, observando-se o desaparecimento do sangramento intestinal. É interessante mencionar que após o controle do processo é comum observar-se pequenos episódios de sangramento, caso a mãe consuma involuntariamente pequenas quantidades de proteína do leite de vaca. 

Constipação crônica secundária a Alergia à Proteína do Leite de Vaca é outra manifestação que pode ocorrer, não somente no primeiro ano de vida como também no pré-escolar e no escolar. Estudo realizado com 65 crianças italianas (idade entre 11 e 72 meses) com constipação crônica refratária ao tratamento habitual mostrou que 68% delas apresentaram recuperação clínica durante dieta de exclusão das proteínas do leite de vaca(15). Recorrência da constipação foi constatada quando o leite de vaca foi reintroduzido na dieta. Edema, hiperemia e fissura anal foram mais frequentes nas crianças que responderam clinicamente com a dieta de exclusão, assim como a infiltração por eosinófilos na mucosa retal(15). Mencionou-se dificuldade para o tratamento destas fissuras anais, sugerindo que este quadro de proctocolite poderia ser responsável por episódios de evacuação dolorosa, o que poderia agravar e perpetuar o quadro de constipação, intestinal. Os autores encontraram, nos pacientes com constipação, maior frequência de sensibilização e antecedentes pessoais e familiares de alergia secundária a Alergia à Proteína do Leite de Vaca(15). No entanto, grande parte dos pacientes com constipação por Alergia à Proteína do Leite de Vaca não apresentava sensibilização, o que também foi observado em estudo realizado em nosso serviço(16). Assim, considera-se que a reação imunológica da constipação por Alergia à Proteína do Leite de Vaca é do tipo não IgE mediada. Mais recentemente se demonstrou interação neuroimune, com base no estudo comparativo entre a intensidade de anormalidades por imuno-histoquímica e parâmetros da manometria anorretal(17). Outro aspecto importante, evidenciado em nosso serviço, é o comprometimento pôndero-estatural das crianças com constipação secundária ao leite de vaca, em comparação a aquelas apresentando constipação crônica funcional grave(18). 

A enteropatia e a enterocolite induzida pela proteína do leite de vaca têm a diarreia crônica e a desnutrição e/ou déficit do crescimento como manifestações clínicas mais importantes. Ao que parece, esta forma de apresentação não é tão comum como se observava na década de 1970, quando foi descrita(19). Com frequência o processo era desecadeado por uma infecção por E. coli enteropatogênica(19). A redução na incidência foi observada a partir do final da década de 1990, quando começaram a surgir casos de alergia alimentar múltipla com lesões mínimas do intestino delgado(19,20). Essa síndrome pode ocorrer na ausência de infecção intestinal desencadeante. A enteropatia tende a ser menos grave que a enterocolopatia. No momento do teste de desencadeamento existe maior probabilidade de ocorrer reação positiva de maior gravidade(21). A síndrome de enterocolite induzida pela proteína da dieta apresenta elevada gravidade e recentemente foi considerada como reação alimentar sistêmica(8,21). A recuperação clínica e nutricional, com dieta de exclusão e fórmula substitutiva adequada, pode requerer um período mais prolongado(8). 

A esofagite eosinofílica pode ocorre no lactente; entretanto, é mais prevalente no escolar e no adolescente(22,23). Nãose conhecem plenamente os fatores etiológicos envolvidos. As manifestações no lactente podem ser vômitos, regurgitações, dificuldade à alimentação e diminuição no crescimento. Nas crianças em idade escolar é comum a queixa de dor na região esternal, disfagia e impactação de alimento no esôfago. O diagnóstico exige a realização de endoscopia e biópsias, nas quais se observa infiltrado eosinofílico. O diagnóstico final depende da análise conjunta dos dados clínicos, endoscópicos e histológicos. O papel da Alergia à Proteína do Leite de Vaca e a outros alimentos não está plenamente demonstrado; entretanto, dieta de exclusão vem sendo recomendada como parte do tratamento(22,23). 

Diagnóstico 
A diretriz(8) do Comitê de Gastroenterologia da Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição em Pediatria ("ESPGHAN"), publicada em 2012, discute a relevância dos seguintes procedimentos no diagnóstico de Alergia à Proteína do Leite de Vaca em Pediatria: 

1. IgE sérica específica e teste cutâneo de leitura imediata ("prick tet");

2. Teste de contato ("patch test"), IgE total e teste intradérmico; 

3. Anticorpos séricos específicos da classe IgG e testes in vitro; 

4. Endoscopia e histologia; 

5. Dieta diagnóstica de eliminação das proteínas do leite de vaca; 

6. Teste de desencadeamento ou desafio. 

Os vários métodos são discutidos de maneira sintética e objetiva. Com relação à IgE sérica específica ("RAST", "Imunocap") e ao teste cutâneo de leitura imediata ("prick test") se afirma que a realização simultânea dos dois testes na avaliação diagnóstica é desnecessária(8). A presença de sensibilização, indicada por qualquer um destes testes, deve ser interpretada em conjunto com outros dados clínicos e evolutivos. Ou seja, sensibilização não é diagnóstico de alergia. Destacam ainda que, com frequência, nas reações não mediadas pela IgE se caracteriza sensibilização, ou seja, ambos os exames (determinação de IgE específica e teste cutâneo de leitura imediata) são negativos(8). 

Com relação a teste de contato ("patch test"), IgE total, teste intradérmico, anticorpos séricos específicos da classe IgG e testes in vitro se ressalta que não existem demonstrações suficientes que permitam o uso de qualquer um deles na prática clínica(8). 

Endoscopia e histologia devem ser indicadas em pacientes com sintomas gastrointestinais persistentes e/ou déficit pôndero-estatural. Destaca-se, ainda, que as infiltrações eosinofílicas e a atrofia vilositária devem ser correlacionadas com o quadro clínico e o resultado do teste de desencadeamento, levando em consideração que podem ser causadas por outras doenças, além da Alergia à Proteína do Leite de Vaca(8). 

Por sua vez, grande destaque é atribuído à resposta clínica à dieta de exclusão. Este é um ponto com o qual concordamos plenamente e que muitas vezes é deixado em segundo plano, tanto pelos familiares como por alguns profissionais que valorizam de forma exagerada os exames subsidiários. Assim, a dieta de eliminação deve proporcionar melhora clínica quando se trata de Alergia à Proteína do Leite de Vaca e a dieta é administrada de forma apropriada. A diretriz(8) destaca que "a duração da dieta de eliminação depende das manifestações clínicas, deve ser a mais breve possível, no entanto, suficientemente longa para julgar a evolução dos sintomas". Assim, a duração varia de 3 a 5 dias para reações imediatas (por exemplo, angioedema, vômitos e exacerbação imediata de eczema); de 1 a 3 semanas para crianças com reações tardias (por exemplo, sangramento fecal e piora de eczema). Para pacientes com diarreia crônica e déficit de crescimento pode ser necessário realizar a eliminação por 2 a 4 semanas, para observar de forma clara o efeito positivo da dieta de eliminação(8). Destaca, ainda, que quando não houver resposta favorável é pouco provável o diagnóstico de Alergia à Proteína do Leite de Vaca, devendo-se considerar outros diagnósticos diferenciais. Deve ser destacado que estes procedimentos são direcionados basicamente aos lactentes. 

No caso de lactentes em aleitamento natural exclusivo apresentarem manifestações clínicas compatíveis com Alergia à Proteína do Leite de Vaca se deve recomendar que as mães excluam as proteínas do leite de vaca de sua dieta (leite de vaca, seus derivados e alimentos que contenham leite na sua composição). A diretriz recomenda que quando as manifestações clínicas regridem, a mãe deve voltar a consumir proteínas do leite de vaca. Caso o diagnóstico se confirme (caracterizado pelo reaparecimento das manifestações clínicas), a mãe deve voltar para a dieta de exclusão, sendo necessário que receba suplementação de cálcio e aconselhamento nutricional(8). 

De acordo com a diretriz(8) da ESPGHAN, o teste de desencadeamento deve ser realizado "após a verificação de melhora significante na vigência da dieta de exclusão, para confirmar o diagnóstico de Alergia à Proteína do Leite de Vaca". "O teste de desencadeamento deve ser realizado de forma padronizada, sob supervisão médica". Independentemente do tipo de reação esperada, o teste deve ser realizado sob supervisão médica em ambiente em que o tratamento de anafilaxia possa ser realizado a qualquer momento. 

Notas: 1. Manifestação clínica apresentada por ocasião do teste de desencadeamento positivo foi diferente da manifestação clínica inicial em 24,9% dos pacientes com teste positivo. Teste de desencadeamento positivo foi mais frequente em pacientes que recebiam fórmula com proteína extensamente hidrolisada ou de aminoácidos. 

2. Mesma manifestação que levou ao diagnóstico como critério para considerar o teste de desencadeamento positivo. 

3. Todos os 46 pacientes apresentavam sensibilização, de acordo com o teste cutâneo de leitura imediata. O coeficiente Kappa mostrou concordância (0,73) entre as manifestações ocorridas no desencadeamento em relação às manifestações clínicas iniciais. Anti-histamínicos orais controlaram as manifestações clínicas decorrentes do teste de desencadeamento. 

4. Foram estudados também 19 pacientes com dados clínicos não sugestivos de Alergia à Proteína do Leite de Vaca IgE mediada, ou seja, que não apresentavam sintomas típicos após a ingestão de leite de vaca ou ausência de manifestações nas seis horas subsequente a ingestão de derivados do leite de vaca. O teste foi negativo em todos. Considerando todos os pacientes em conjunto a positividade do teste de desencadeamento duplo-cego foi de 67%. Manifestações sugestivas de reações positivas ocorreram em quatro pacientes quando receberam o placebo, sendo um do grupo classificado na metodologia como sem Alergia à Proteína do Leite de Vaca IgE mediada. Adrenalina IM foi administrada para cinco pacientes. 


Em certos casos o teste de desencadeamento deve ser realizado com o paciente hospitalizado (histórico de reações alérgicas imediatas, reações imprevisíveis, como em pacientes sensibilizados ou que ficaram por muito tempo em dieta de exclusão e dermatite atópica grave). 

No Brasil foram realizados alguns estudos(24-27), resumidos na Tabela 3, para avaliar o teste de desencadeamento. A positividade variou segundo o tipo de manifestação clínica predominante (não-IgE ou IgE mediada) e idade dos pacientes. No primeiro estudo publicado, realizado em serviços de gastroenterologia pediátrica, constatou-se desencadeamento positivo em 23,1% dos pacientes, sendo que a casuística se encontrava há longo tempo em dieta de eliminação(24). Outro estudo, realizado em ambulatório de gastropediatria, mostrou maior positividade do teste de desencadeamento(25). Ao que tudo indica, a duração da dieta de eliminação foi menor, assim como a idade dos pacientes com teste de desencadeamento positivo(25). Os demais estudos incluíram pacientes nos quais foi caracterizada sensibilização. Foram realizados em serviços de alergia(26,27). A positividade dos testes variou de 41,3% a 100,0%. No estudo no qual se realizou teste de desencadeamento duplo-cego controlado por placebo, observou-se resultados positivos com o placebo em 5 dos 58 pacientes estudados. Em um dos artigos, de pacientes com alergia imediata mediada pela IgE, foi necessária a administração em pacientes que desenvolveram reações com maior gravidade. 

Paradigma da avaliação do paciente com hipótese diagnóstica de alergia digestiva ao leite de vaca 
Em nossa experiência com Alergia à Proteína do Leite de Vaca sempre destacamos os três pilares que asseguram a boa assistência: 

1. Estabelecimento da hipótese diagnóstica de Alergia à Proteína do Leite de Vaca; 

2. Dieta de eliminação das proteínas do leite de vaca, que deve proporcionar expressiva melhora ou plena recuperação clínica; 

3. Teste de desencadeamento ou desafio, para comprovação diagnóstica ou do desenvolvimento de tolerância. 

Para estabelecer a hipótese diagnóstica é necessário conhecer as formas de apresentação e considerar que muitas delas são inespecíficas. Nesta primeira etapa, quando necessário e indicado, incluem-se exames subsidiários (IgE específica, endocopia, biópsia, entre outros). O termo subsidiário deve ser entendido de acordo com o significado da palavra (dado acessório em apoio do principal, auxiliar), lembrando que o principal é a avaliação clínica. 
1. Pregomin Peptiâ (Danone); 2. Alfaréâ (Nestle Nutrition) 3. Enfamil Pregistimil Premiumâ (Mead Johnson); 4. AlergoMedâ (CMW); 5. Aptamil Peptiâ (Danone) contém mistura de prebióticos (FOS + GOS: fruto-oligossacarídeos e galato-oligossacraídeos); 6. Althéra (Nestle Nutriton)â; 7. Neocateâ (Support/Danone); 8. Neocate Advanceâ (Support/Danone); 9. Aminomed (CMW). 


O acompanhamento com avaliação clínica da resposta à dieta de eliminação é fundamental para confirmação da hipótese diagnóstica. Quando não se observa resposta clínica favorável, considerar: 

1. Duração insuficiente da dieta de eliminação; 

2. Prescrição de dieta substitutiva inadequada (por exemplo, leite de cabra ou carneiro). Para lactentes com manifestações gastrointestinais de Alergia à Proteína do Leite de Vaca não deve ser utilizada fórmula com proteína isolada de soja (risco de sensibilização e desenvolvimento de alergia à soja). Assim, no presente momento as opções disponíveis e adequadas são as fórmulas com proteínas extensamente hidrolisadas e as fórmulas de aminoácidos; 

3. Hipótese diagnóstica inicial não confirmada, desde que a dieta tenha sido corretamente prescrita e seguida. 

Caso o paciente apresente melhora significativa, do ponto de vista clínico, deve-se considerar a realização do teste de desencadeamento. Quanto maior o tempo entre o início da dieta de eliminação e a realização do teste, maior a probabilidade de desenvolvimento espontâneo de tolerância. Se o teste de desencadeamento resultar positivo a dieta de eliminação deve ser mantida por mais 6 a 12 meses. Quando a dieta de eliminação tem duração superior a 6 meses pode-se dizer que o desencadeamento se destina, fundamentalmente, à caracterização do desenvolvimento de tolerância. 

Deve ser lembrado que quando o lactente se apresenta assintomático e com crescimento e desenvolvimento adequados existe uma tendência dos médicos responsáveis e da família a não realizarem o teste de desencadeamento diagnóstico, para evitar o risco de recorrência das manifestações clínicas da Alergia à Proteína do Leite de Vaca. 
Segundo Weber, Speridião e Morais. 

Dieta de exclusão das proteínas do leite de vaca 

O princípio básico é realizar dieta substitutiva que não contenha proteínas do leite de vaca e que não apresente risco de reação cruzada (leite de cabra e ovelha) ou de sensibilização, com desenvolvimento de alergia a mais um alimento (por exemplo, fórmula de soja). As fórmulas com proteínas parcialmente hidrolisadas não são eficazes para o tratamento da Alergia à Proteína do Leite de Vaca. 

Na Tabela 4 são apresentadas as alternativas para lactentes que necessitam de fórmulas substitutivas. 

Com frequência a dieta de eliminação tem início no primeiro semestre de vida. Por ocasião do sexto mês devem ser iniciados os alimentos complementares, evidentemente isentos de proteína do leite de vaca. De acordo com a diretriz da ESPGHAN(8), os alimentos devem ser incluídos na dieta, um de cada vez, iniciando com pequena quantidade. Retardo na introdução de alimentos muito alergênicos (ovo, peixe, trigo) não deve ser preconizado (não reduz risco de desenvolvimento de outras alergias). Se não houver diagnóstico de alergia a esses alimentos, os mesmos devem ser incluídos normalmente, como complemento da dieta de eliminação(8). 

Principalmente após os 12 meses de vida, caso seja necessário manter a dieta de exclusão das proteínas do leite de vaca, deve-se ter atenção especial quanto à ingestão de cálcio e de outros nutrientes. Atenção específica por nutricionista pode ser de grande valia(5,28). 

De acordo com as DRIs (Dietary Reference Intake - ingestão dietética de referência), do Instituto de Medicina (2010), as necessidades diárias de cálcio são: 

1. Com base no conceito de ingestão adequada (AI, adequate intake): 200 mg de 0 a 6 meses e 270 mg de 6 a 12 meses de idade; 

2. Com base no conceito da ingestão diária recomendada (RDA, Recommended Dietary Allowance): 700 mg de 1 a 3 anos; lactantes com 14 a 18 anos: 1300 mg; lactantes com mais de 18 anos: 1000 mg. 


A não utilização de fórmula substitutiva se associa a maior risco de dieta com quantidade insuficiente de cálcio(5). É frequente a necessidade de prescrição de suplemento de cálcio. 

Lembrar que os familiares devem ser instruídos quanto à necessidade de leitura dos rótulos de alimentos utilizados como complemantares(28,29). Na Tabela 5 são apresentados os termos que devem ser pesquisados nos rótulos dos produtos industrializados. 

Conclusão 

Alergia à Proteína do Leite de Vaca é um problema frequente da assistência à criança. O diagnóstico é fundamentalmente clínico, ou seja, depende de anamnese cuidadosa, que relaciona o aparecimento e desaparecimento das manifestações clínicas segundo as mudanças da dieta. Os exames subsidiários podem ajudar; entretanto, não são suficientemente precisos. A utilização de dieta substitutiva que atenda às necessidades nutricionais é fundamental para que se obtenha reversão do processo. Uma vez conseguido o controle do caso, deve-se programar teste de desencadeamento (para comprovação do diagnóstico de APLV ou caracterizar o desenvolvimento espontâneo de tolerância ao leite de vaca), levando em consideração as particularidades de cada paciente. 

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NO BRASIL, 350 MIL CRIANÇAS TÊM ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA

Proteína do leite pode estar presente também em sabonetes, giz, balão de festa. Busca por produtos sem leite já é um grande desafio no mercado.



Balão de festa, giz escolar. A Mariana, mãe do Mateus, de 5 anos, nunca imaginou que ali tinha proteína do leite. “Ele estava brincando no pátio da escola, com giz com a turma inteira, e aí naquele momento que ele deixou o giz, ele coçou o nariz e logo depois ele foi correr no pátio. Ele ficou inchado, com dificuldade de respiração, tossindo, e aí teve uma reação muito séria”, relembra Mariana.

Foi assim que ela descobriu que a alergia do Mateus era mais grave do que pensava. “Eu já sabia que ele tinha alergia a leite quando ele teve reação ao giz. Só que eu não imaginava que no giz tinha proteína do leite na composição”, afirma Mariana.

O giz tem caseína, uma proteína encontrada no leite de vaca. “Eu fui no médico e ele me explicou que, a partir daquele momento, a gente precisaria ter uma adrenalina onde ele fosse”, diz Mariana.

“Uma reação alérgica grave, do tipo anafilático, não tem outra alternativa. A única garantia de vida é o uso da adrenalina. Aplica sobre a coxa, ouve um clique, conta até 10, já aplicou a medicação e esse paciente está fora de risco. Essa caneta pode salvar a vida de uma criança”, avisa a alergista Ariana Young.

A caneta não é regulamentada no Brasil. Os pais que precisam tem que importar. E sai caro. “O mais barato custa R$ 600”, diz Ariana Young.

A Anvisa diz que só não regulamentou esses produtos porque nenhum laboratório pediu.

No Brasil, 350 mil crianças têm alergia à proteína do leite de vaca. “Desses 350 mil, em torno de 70 mil já tiveram ou terão alguma reação do tipo anafilática, com choque anafilático - que representa risco de morte”, afirma Ariana Young, alergista.

“Alergia à proteína do leite de vaca é surge normalmente no primeiro ano de vida, enquanto ele é bebê ainda”, explica Ariana Young.

A Karina descobriu cedo. O Lucca tinha 8 meses quando teve as primeiras reações. “Já reagiu a lencinho umedecido, a sabonete, à medicação”, ela lembra.

E desde a hora que o Lucca acorda, a mãe já fica em estado de alerta. No café da manhã, a irmã, Pietra, não tem alergia e come normalmente derivados do leite. A Karina separa tudo com etiquetas.

“Tudo que é dele está etiquetado, na dúvida, não tem etiqueta, não tem o nome dele, não usa. O pratinho é separado, canequinha separada, o copo é separado, até o jogo americano. A louça do Lucca é lavada com a esponja separada”, ensina Karina. 

No banheiro, tudo separado também. “Eu evito ao máximo produtos que tenham leite na higiene dele, mas alguns podem conter traços”, conta Karina.

Os traços de leite são uma "contaminação" do produto fabricado na mesma máquina que outros produtos com leite ou derivados. Não é todo alérgico que reage aos traços, mas o Lucca, sim.

Em casa, tudo sob controle. Mas e quando o Lucca é convidado para uma festa? A mãe entra em contato com quem estiver organizando a festa e prepara o "kit-festa" do Lucca. “A gente está preparando uma esfiha, massa toda caseira, não tem leite, não tem manteiga”, explica Karina.

Para as mães de filhos alérgicos, achar ingredientes é uma batalha. A busca por produtos sem leite já é um grande desafio no mercado. A situação fica ainda pior quando essas informações não são colocadas corretamente nos rótulos.

Como a rotulagem não é padronizada no Brasil, os fabricantes colocam os ingredientes do jeito que bem entendem e muitas vezes em inglês. Sabonete pode ter leite e caldo de carne também.

Atenção: a lactose é o açúcar natural do leite, não a proteína. “Uma pessoa que ela é intolerante à lactose, ela não consegue digerir o açúcar presente no leite. Não é o caso do Lucca, e das demais crianças que têm alergia à proteína ao leite da vaca. Elas não conseguem digerir a proteína”, explica Karina.

FONTE: Jornal Fantástico. Rede Globo

terça-feira, 12 de maio de 2015

A TUTELA ESQUECEU A ALERGOLOGIA PEDIÁTRICA

Em vésperas da realização do 4º Congresso da Sociedade Portuguesa de Alergologia Pediátrica (SPAP) que este ano decorreu entre os dias 8 e 9 de Maio, no Palace Hotel Monte Real, fomos conhecer melhor a instituição, criada há cerca de quatro anos no seio da Sociedade Portuguesa de Pediatria, num momento em se estimava que entre 12 a 13% das crianças portuguesas tinham asma e que mais de 30% apresentavam sintomas de rinite. Uma realidade que entretanto tem vindo a alterar-se, com a estabilização do número de casos. Hoje, a grande preocupação dos pediatras são as alergias alimentares, que têm vindo a aumentar significativamente, quer em número quer em severidade, apontou ao nosso jornal Libério Bonifácio Ribeiro, presidente da SPAP, que lamenta a falta de respostas da tutela para os muitos problemas que afectam a alergologia pediátrica.

Apesar de criada há apenas quatro anos, a Sociedade Portuguesa de Alergologia Pediátrica (SPAP) resultou da individualização, no seio da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), da Secção de Imunoalergologia Pediátrica, criada em Março de 1985. “Costumo dizer que a SPAP é um jovem adulto, com trinta anos de idade”, diz Libério Bonifácio Ribeiro, presidente da instituição.

A autonomização, ainda que limitada, foi vantajosa: “ganhámos visibilidade e um maior reconhecimento externo, pese embora termos sido sempre autónomos em termos funcionais e financeiros face à SPP, mesmo quando éramos apenas uma secção”.

Mas a verdade é que o novo estatuto veio facilitar o estabelecimento de intercâmbios com outras sociedades, quer a nível nacional, quer internacional. “Os resultados não tardaram. Por exemplo, ainda que já tivéssemos uma relação de grande proximidade com a Sociedad Española de Inmunología Clínica, Alergología y Asma Pediátrica (SEICAP), a autonomização veio propiciar a organização de sessões conjuntas no âmbito dos congressos das duas sociedades. Também com a SEICAP estamos neste momento a preparar um documento de consenso sobre a alergia às proteínas do leite de vaca (CIbAL – Consenso Ibérico Alergia ao Leite), cujos resultados preliminares serão apresentados em Maio no 4º Congresso da SPAP”. Uma iniciativa alicerçada no método Delphi e que tem como objectivo uniformizar a nível da Península Ibérica a abordagem preventiva, diagnóstica, terapêutica e evolutiva destas alergias, explicou ao nosso jornal o especialista.

Outra das vantagens que resultaram da “promoção” da antiga secção a sociedade foi a da maior relevância e facilidade no estabelecimento de parcerias directas com instituições oficiais, que no passado eram sempre mediadas pela SPP, aponta o médico.

O “nascimento da SPAP surgiu num momento em se se estimava que entre 12 a 13% das crianças portuguesas tinham asma e mais de 30% apresentavam sintomas de rinite. Ora, sendo certo que no que se refere à asma os indicadores reflectem uma estabilização do número de casos, já no que toca às alergias alimentares a situação tem-se vindo a agravar muito significativamente, quer no que respeita ao número de casos, quer à sua severidade”, diz. Um fenómeno mundial, particularmente grave nos países desenvolvidos, mercê de inúmeros factores – socioeconómicos, culturais, entre outros, que tem merecido especial atenção por parte da comunidade médica.

“Se é verdade que hoje em Portugal a mortalidade em idade pediátrica associada à asma é nula, o mesmo já não se pode afirmar relativamente à relacionada com a alergia alimentar”. Um novo cenário que Libério Ribeiro associa a diversos factores que têm potenciado uma quebra no equilíbrio que se verificava entre os indivíduos com propensão genética para o desenvolvimento de doença alérgica – cerca de 80% dos doentes têm antecedentes familiares de alergia – que acabam por desenvolver doença e aqueles que não manifestavam quaisquer sintomas da doença ao longo da vida. “O que mudou? O meio em que nos desenvolvemos, que nos afecta logo nos primeiros meses de vida; em que a amamentação é muitas vezes substituída por uma alimentação artificial que nem sempre é decidida tendo em conta o risco específico da criança – a primeira proteína estranha que uma criança com risco alérgico toma provém, normalmente, do leite de vaca”. Ora, explica, “o leite materno é essencial ao desenvolvimento de tolerância a outros alimentos, pelo que crianças que não estão a ser amamentadas correm um risco maior de desenvolverem alergia alimentar do que aquelas que estão a ser amamentadas concomitantemente”.

O universo de riscos que o desenvolvimento da ciência trouxe faz mesmo com que a propensão para o desenvolvimento de doença alérgica possa ser determinada pelo tipo de parto, explica o médico. De uma forma muito simplista, “hoje sabemos que ao nascer todos temos um perfil alérgico (TH2) – todos nascemos potencialmente alérgicos – defleção imunológica necessária para a viabilização do próprio feto, que de outro modo seria rejeitado como corpo estranho. Esta propensão alérgica começa a alterar-se logo no canal de parto vaginal onde o bebé contacta com a flora materna que induz uma alteração de perfil TH2 para TH1. Ora, o problema é que hoje em dia os partos são cada vez mais assépticos. Uma situação agravada pelo excessivo recurso a cesarianas (em que a assepsia é total). Cerca de 36% dos partos realizados em Portugal são por cesariana, um dos valores mais elevados a nível mundial”.

Segundo o presidente da SPAP, “está hoje demonstrado que uma criança nascida com recurso a cesariana só consegue desenvolver uma microflora intestinal idêntica à de uma criança nascida por parto natural aos seis meses de vida, ou seja, há uma janela de seis meses potencialmente perigosa para aqueles que têm um risco genético maior”, explica.

A todos estes riscos acrescidos iniciais somam-se outros, resultado de práticas adoptadas no passado e que hoje se apontam como erradas. “Por exemplo, em crianças com risco alérgico elevado, protelávamos o mais possível – até aos 12-15 meses – a introdução na dieta dos alimentos mais potencialmente alergizantes, como o ovo ou o peixe. Ora, hoje em dia pensa-se que essa introdução deve ser feita mais precocemente – particularmente nas crianças que estão a ser amamentadas – de modo a alcançar-se também o quanto antes a tolerância a esses alimentos”.

A tudo isto… Somam-se os problemas da modernidade. “Quando estamos a beber leite estamos também a ingerir antibióticos e hormonas introduzidas nas rações animais… Pesticidas agrícolas… Enfim, uma ecotoxicidade a que a maioria de nós está exposta no dia-a-dia, queira ou não e que por efeito cumulativo induz um maior risco de desenvolvimento de alergias e outras patologias” aponta.

De entre as formas mais comuns da doença, a rinite alérgica é a que assume proporções mais preocupantes, com uma prevalência no adulto jovem entre os 35 e os 40% mas que em alguns casos é mesmo superior: “Num estudo que realizei em alunos de um agrupamento de escolas da Lourinhã, a prevalência de rinite alérgica atingiu os 45%”, recorda o médico, para logo acrescentar: “o inquérito que então fiz revelou que mais de metade das casas eram alcatifadas; que mais de 50% dos pais eram fumadores e que fumavam dentro de casa… que 80% tinham animais domésticos. Todos factores agravantes do risco”.

Alergologia pediátrica: uma área esquecida pela tutela

Aos muitos problemas que a Alergologia Pediátrica portuguesa hoje enfrenta, soma-se um outro, igualmente limitador da definição de estratégias adequadas a uma intervenção clínica informada: a da aparente falta de interesse da tutela.

“Houve em tempos uma chamada Comissão Nacional da Asma (CNA), marcada por um facto curioso: coordenada pela Direcção-Geral da Saúde, a CNA contava com representantes da Coordenação Nacional da Global Initiative for Asthma (GINA), da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e da Associação Portuguesa de Asmáticos. A Pediatria não estava representada, não obstante a asma ser muito mais prevalente na criança do que no adulto” recorda Libério Ribeiro. Como não poderia deixar de acontecer, a direcção da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), à época, lamentou a lacuna, recordando que integrava a sociedade uma Secção de Alergologia Pediátrica, da qual faziam parte “os elementos mais activos e representativos desta área de Pediatria, que espalhados pelo País, nas suas Unidades, desenvolvem uma actividade profícua, tanto na vertente assistencial como na pedagógica e científica, reconhecida a nível nacional e internacional”.

Um esquecimento tanto mais lamentável e incompreensível sublinhava então a SPP, dado todos os estudos epidemiológicos, demonstrarem que “a prevalência da asma é elevada nos diversos escalões etários da criança e quando cerca de 30% das admissões nos Serviços de Urgência são crianças com agudização da sua asma”.

“Mais tarde acabaríamos por ser integrados… Ainda que por pouco tempo. Isto porque como muitas vezes sucede em Portugal o programa foi extinto por falta de verbas, através de um Despacho assinado pela então ministra das Finanças. Mais recentemente com a criação do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias “cheguei a participar numa reunião e foi tudo. Nunca mais fomos convocados para o que quer que fosse”, relatou ao nosso jornal Libério Ribeiro, que confessa que até hoje ainda não deu conta de que alguma coisa estivesse a ser implementada no terreno, ao nível da criança alérgica, ao abrigo do programa da DGS.

Comparticipação das vacinas… Uma batalha que continua

Uma das reivindicações pelas quais a Sociedade Portuguesa de Alergologia Pediátrica e o seu presidente mais se têm batido é a da que as vacinas antialérgicas voltem a ser comparticipadas pelo Estado, sustentando a pretensão no facto de estar hoje perfeitamente demonstrado que a imunoterapia específica é a única forma de alterar a história natural da doença alérgica. “Têm não só um efeito curativo relativamente às alergias para as quais estão indicadas, como também um efeito preventivo do desenvolvimento de futuras alergias”, defende o médico.

Uma questão que assume particular acuidade em tempos de crise. “No nosso primeiro congresso, que coincidiu com o início da actual crise económica e financeira que o país atravessa, um dos painéis de debate foi dedicado ao tema Asma e Pobreza, que naturalmente condiciona a doença alérgica. As condições habitacionais de milhares de famílias degradaram-se assim como os padrões de higiene. Comem-se mais hidratos de carbono e menos proteínas, o que tem impacto ao nível do sistema imunitário. Outro aspecto que deveria ser avaliado é o da adesão à terapêutica. Os medicamentos são caros e é provável que muitos doentes, por exemplo asmáticos, tomem apenas a medicação sintomática e não a de fundo que é a que verdadeiramente trata a doença”, por falta de recursos.

FONTE: JORNAL MÉDICO PT

ALERGIA ALIMENTAR FOI TEMA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO AMAZONAS

No dia 24/04/ 2015 a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) promoveu Audiência Pública para debater alergias alimentares como a Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV), tipo mais comum na infância que pode oferecer risco de morte nas reações mais graves. O evento ocorreu no Plenário Ruy Araújo, às 9h30.

Presidente da Comissão, o deputado estadual Ricardo Nicolau (PSD) afirma que a audiência teve por objetivo compartilhar informações e debater medidas concretas de combate às alergias alimentares. Dentre as metas está a implantação de uma política específica de atendimento e tratamento na rede pública de saúde.

Alimentos como leite de vaca e derivados, soja, ovo, trigo, peixes e crustáceos respondem por 90% das reações alérgicas. Estima-se que 350 mil crianças brasileiras possuem alergia à proteína do leite de vaca, de acordo com dados da Associação Brasileira e Alergia e Imunologia (Asbai).

“É preciso segurança na hora da compra. Com informações corretas e precisas nos rótulos, os portadores de alergia alimentar poderão ter mais qualidade de vida”, analisa o deputado, que uniu - se a causa após reunião com mães fundadoras do Grupo de Apoio a Crianças com Alergia Alimentar do Amazonas (Criale).

A Audiência Pública contou com a presença de representantes das Secretarias Estadual (Susam) e Municipal (Semsa) de Saúde; Secretarias Estadual (Seduc) e Municipal (Semed) de Educação; Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam); Conselhos Regionais de Medicina (Cremam) e Nutricionistas; Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel); Grupo de Apoio a Crianças com Alergia Alimentar do Amazonas (Criale); além de médicos, alergistas e pediatras.

Fonte: FATO AMAZONICO: A Noticia Agora.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

INAUGURAMOS NOSSA PÁGINA EM UMA SEMANA MUITO ESPECIAL!!

Fonte: Põe no Rótulo

Semana da conscientização sobre a Alergia Alimentar e a nossa Semana de Enfermagem... Além do Dia das mães! 

MÃES DE ALÉRGICOS PRECISAM DE INFORMAÇÕES E SEGURANÇA ALIMENTAR!!!!

ALERGIA ALIMENTAR E BULLYING

Fonte: Põe No Rótulo

Entre os dias 10 e 16 de maio, entidades internacionais promovem uma semana de conscientização sobre a alergia alimentar.

Um tanto triste e chocante de afirmar, mas muitas crianças com alergia alimentar sofrem preconceito e há vários relatos de bullying ocorridos na escola.

Este vídeo traz uma excelente oportunidade para reflexão e divulgação do tema



Fonte: Youtube

Produção do vídeo: FARE
Tradução: Juliana Costa
Edição de legenda: Raquel Banatti

NOVA FERRAMENTA AJUDA A DIAGNOSTICAR ALERGIA AO LEITE EM BEBÉS


A alergia à proteína do leite de vaca é a mais comum na infância. Por ser difícil de diagnosticar, provoca angústia aos pais e crianças na espera pelo resultado. A Cow's Milk-related Symptom Score Tool (CoMiSS), desenvolvida pela Nestlé, é uma ferramenta que visa ajudar os profissionais da saúde a identificar possíveis casos de alergia. Esta ferramenta pretende reduzir os tempos de diagnóstico desta alergia.

A pouca especificidade dos sintomas leva a que o diagnóstico não seja imediato. Quando não devidamente tratada, a alergia à proteína do leite de vaca pode conduzir a uma redução do crescimento e desenvolvimento da criança.

Neste sentido, a utilização CoMiSS ao nível dos cuidados de saúde primários deverá promover o conhecimento dos sintomas da alergia a proteína do leite de vaca (Cow´s milk proteins allergy - CMPA) acelerando o processo de decisão para a implementação de uma terapêutica adequada. O teste, a ser realizado pelo profissional de saúde, dura entre 5 a 15 minutos. Permite avaliar critérios como o choro, regurgitação, fezes, pele e sintomas respiratórios – sintomas associados a esta alergia - e quantificá-los numa escala de 0 a 33 pontos. Um resultado equivalente a 12 ou maior que 12 indicia risco de alergia à proteína do leite de vaca.

"Não é expectável que os profissionais de cuidados de saúde primários sejam especialistas nesta matéria e ainda mais em condições tão complexas. Esta ferramenta vem assim prestar um apoio precioso na avaliação mais precisa dos principais critérios/sintomas, com base numa métrica que permite atribuir um sistema de pontuação. Fácil e rápido de utilizar, o CoMISS representa um passo em frente na corrida contra o diagnóstico tardio deste tipo de alergias – um processo que pode ser angustiante para as crianças, os pais e até para os próprios profissionais de saúde", explica Vandenplas, presidente do painel de especialistas em gastroenterologia, reunidos pela Nestlé Health Science.

FONTE: Vital Health